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Poimenia Factual

“Mas eu não me recusei a ser pastor…” Jr.‭17‬:‭16‬ ‭‬‬‬‬‬‬

23/11/2024 às 08h39 Atualizada em 25/11/2024 às 09h35
Por: Redação
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Tudo foi tão rápido, sem aviso prévio, mudando completamente a minha perspectiva de vida. Uma enfermidade me forçou mudar de cidade e de ofício, deixando para trás à comunidade a qual pastoreava e também a vocação que, por anos, me preparei para exercer e servir o Reino de Deus.  Sem compreender e até resistindo, o que o Senhor queria comigo, fui criar cabras e ovelhas no interior do Paraná. Durante anos me preparei para o pastorado de gente, mas me vi pastoreando bichos.

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Algo que eu só sabia de ouvir falar ou lendo nas páginas dos textos sagrados. Foi uma Mudança radical!  Esta experiência mudou a minha perspectiva, meu equilíbrio e a minha noção do que é pastorear. No início da nova realidade, eu pensava que era apenas uma forma de subsistência, mas, aos poucos, percebi que eu tinha ingressado em uma das melhores universidades teológicas: o pastoreio de animais.  Nessa escola, são os bichos quem ensina e educa o pastor. São eles que apresentam às regras e estabelecem as leis. O currículo, muito bem montado, determina para onde querem nos levar. No mundo animal, não há lugar para a arrogância ou proeminência, quem se torna aluno, deve se adequar ao contexto concedido pelo rebanho. Se for determinado como os bodes, forte como os carneiros e fedorento como o rebanho, será permitido transitar e interagir com eles, caso contrário, expulsarão sem aviso prévio, sem direito de completar a jornada.

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Com o tempo, o comportamento dos animais revelava segredos que eu desconhecia no trato com os humanos. Essas descobertas me apresentaram novas lições, como também indicaram falhas que, eu cometi, enquanto pastor evangélico.  Ninguém deveria assumir o pastorado de gente sem antes se submeter a realidade da vida pastoril de fato. Essa atividade milenar, guarda segredos e ensinamentos, que uma sala de aula não pode oferecer. É preocupante aceitar, jovens pastores, assumindo comunidades, sem nenhum conhecimento na prática, do que é um rebanho de cabras e ovelhas. E por que é importante? Porque veio, deste ofício milenar, a ideia de pastorear gente. A Teologia Pastoral foi fundamentada nesse víeis pastoril nômade. Se o pastor não sabe quem ele é, também não saberá o que fazer!

No passado, os rebanhos eram formados de: caprinos, ovinos, cáfilas, muares e vacuns. Todos estes elementos representavam um recurso imediato ao pastor. Não era uma vida para se ter ou possuir, mas para se conviver junto ao rebanho. O rebanho era a extensão de sua vida e identidade.

Algumas lições que passei incorporar no conteúdo da Teologia Pastoral:

·       A rotina: qualquer mudança no manejo ou no espaço dos animais, desencadeia pânico no rebanho. Tudo que vamos fazer, como pastores junto a uma comunidade, deve ser de forma lenta e cadenciada, caso contrário, causa desequilíbrio ou desestabiliza a comunidade.

·       A hierarquia: animais idosos são os principais ícones do rebanho.  São eles que sinalizam e indicam aceitação ou fuga. Se desprezarmos os anciãos da comunidade, provavelmente perderemos toda a família. São eles quem detém a sabedoria familiar.

·       O aprisco: não é algo que os animais gostam, mas aceitam pela segurança. Os crentes são, por natureza espiritual, andarilhos. A comunidade é uma forma de pertencimento que os crentes precisam ter como referência, enquanto andarilhos neste mundo.

·       As fezes: são indicadores da saúde do rebanho. É preciso ser especialista em estrume para saber sobre a sanidade dos animais. São as cacas dos crentes que indicam, ao pastor, o que pregar e o que cantar. Se mudar a consistência das fezes, muda-se as programações, os conteúdos, as atividades da comunidade, por isso pastores devem ser especializados em fezes, vômitos e odores.

·       Abate necessário: animais que não são férteis ou não procriam, devem ser descartados. Como comunidade, nós pastores, só devemos trabalhar com quem Deus está trabalhando. Ninguém deve receber um cargo para segura-lo na comunidade. A vocação e a espontaneidade em servir a Deus, devem ser autênticos.

·       O Bode e o Carneiro. Juntos, eles trazem equilíbrio no comportamento do rebanho. O bode, disciplina cabras e ovelhas enquanto presos no aprisco, estabelecendo a ordem e mantendo a hierarquia. O carneiro, com suas cabeçadas, conduz o rebanho para fora do aprisco, indicando o caminho e a direção a tomar. Todo pastor deve respeitar o bode e o caneiro, pois eles representam os braços protetivos e disciplinador do pastor.

·       A realidade do aprisco. Na lida com os animais, inúmeras vezes, fui atingido por cabeçadas potentes, chifradas cortantes e até mordidas doloridas, em outras palavras, não há pastorado sem escornos, sem feridas ou sem lesões. Quem tem vocação ao pastorado deve se acostumar com a dor, feridas e cicatrizes. Porque Deus está mais preocupado com o nosso desenvolvimento do que com o nosso conforto. O sofrimento é uma forma de batismo que sela a nossa autêntica vocação.

Ainda continuo respondendo ao Senhor: “eu não me recuso ser pastor…” contudo, se eu começasse o meu ministério de novo, preferiria ser mentoreado primeiro pelos animais, para adquirir sabedoria, e, só depois, acreditar que é possível pastorear os homens.

  • O pastor Wilson Guimarães atualmente desenvolve um ministério itinerante com palestras teológicas e aconselhamento pastoral. Tem um currículo que o precede, sendo Especialista em Aconselhamento pastoral pelo CPPC (Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos), além de ser Bacharel em Teologia e Exegética, além de possui Especialização em Missões; Especialização em Educação Religiosa; e Especialização em Ministério Integral.
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