Eu sou um canteiro de obras. Há ocasiões que penso, que todas essas coisas em desordem, no meu universo interior, nunca terão fim. Sou um eterno inconformado comigo mesmo. Por mais que eu queira me tornar uma obra de arte apreciada por todos, mais me assemelho a um monturo à beira da estrada. Inútil querer me classificar! Na realidade, das atividades de um oleiro, eu sou aquele vaso que sempre se quebra em suas mãos e logo me torno, novamente e novamente, em substância informe.
Me esforço para ser uma madeira de lei bem torneada e me tornar uma obra desejada, mas ouço do exímio “carpinteiro” que não passo de uma lenha retorcida. Até creio que sou uma obra prima do criador, mas logo vem a realidade: eu sei, que eu não sou, o que penso que sou! No desespero da minha existência, sou obrigado admitir que, o que me falta na verdade, é me tornar um artesão de mim. Eu preciso aceitar que eu mesmo sou responsável e devo trabalhar em mim. Como meu próprio artesão, preciso me esculpir, me aperfeiçoar e me reinventar. Se não posso ser uma obra prima, pelo menos deverei ser uma obra única.
O espelho se tornou meu acusador: às clãs e os fios brancos da barba serrada, não sugere um cabedal de conhecimento, mas o testemunho refletido das muitas caminhadas por estradas congelantes! Devo ressignificar a minha história de vida. Aceitar que, leve o tempo que levar, aqui, nesta curta história humana, eu sempre serei um produto inacabado. Dói saber que não posso ser recriado, apenas reciclado.
Sou prova cabal do tamanho dos gigantes que se levantaram diante de mim em detrimento ao meu porte de gafanhoto! Quantas lutas, quantos combates, quantas feridas e todas elas enfrentadas sozinho. Tenho que admitir que não me é familiar às bênçãos, sou apenas um sobrevivente da fé. Por isso, minha realidade está mais para um barracão no fundo do quintal de um humilde pintor a uma galeria de arte. Minha sina é permitir que o buril do outro, tire lascas em mim, me deformando e novamente me deformando, para depois me quebrar e me jogar num canto qualquer. O palco é das estrelas, mas os cantos pertencem aos imperfeitos. Calados e deslocados em um canto qualquer, somo obrigados ver o que não queremos e ouvir o que não desejamos. Às estrelas não nos educam, apenas nos humilha com suas performances. Preciso ser um ser resiliente para permitir e suportar os formões dos meus oponentes trabalharem, incansavelmente, em mim, até que todas as imperfeições sejam banidas da minha superfície depressiva. Tento até me esquivar das mãos dos meus carrascos, mas inútil é querer escapar. O outro, são as mãos do artesão maior trabalhando em mim, por mim e através de mim. O que me faz chorar, na verdade, me faz crescer. Dói crescer. Dolorido, devo aceitar, passivamente, que o Eterno, dure o tempo que durar, me transforme, um dia, em uma de suas magníficas criaturas e eu seja chancelado e classificado com o seu selo divino: “viu Deus que era muito bom”.
Descanso a mi ’alma nas palavras sábias do erudito bíblico: “melhor o fim das coisas do que o início delas”. O meu fim não será o meu fim. Isto me conforta, pois ainda há esperança para mim! O meu final reserva o que sonhei para o início de mim.