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O julgamento e a condenação não encerram a dor

Há uma fórmula para amenizar a dor?

16/05/2024 às 20h37 Atualizada em 16/05/2024 às 20h50
Por: Leonardo Zen Fonte: Opinião
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Há uma fórmula para suportar a dor da morte? E, se for a morte de um filho? Há uma fórmula?
Pensei sobre hoje, ao ver um pai que perdeu o filho de forma brutal, olhando para aquela que confessou o homicídio, abraçando suas filhas. 

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Hoje me fiz esta indagação durante um julgamento que acontece em Cascavel. Digo "acontece" porque, enquanto escrevo este texto, ele ainda não terminou. Contudo, por conta de compromissos, precisei deixar de acompanhar.

Sobre o caso

Este júri popular está relacionado à morte de Alceu Preisner Júnior, advogado de 42 anos, que, no final de janeiro de 2022, levou uma facada (ou várias, nunca vamos saber) e foi posteriormente colocado no porta-malas do próprio carro. O carro foi levado até um lugar ermo, em uma rodovia, e incendiado, sendo encontrado horas depois, ainda em chamas, com o corpo carbonizado no porta-malas. Apesar de todas as evidências de que o corpo no carro era de Alceu, a família precisou lutar muito para conseguir a comprovação devido à demora no resultado do exame de DNA, já que o corpo estava carbonizado e irreconhecível.

Além do fato

Apenas contextualizei a morte aqui para podermos focar em outro ponto: o viés da família da vítima. O pai da vítima, conhecido na região como Mano Preisner, foi por muitos anos envolvido com o setor de comunicação; por isso, eu o conheço. Não somos amigos próximos, mas já jantei em sua casa lá pelos idos de 2007, e sempre recebi dele um tratamento muito cordial, respeitoso e, mesmo no meu início de carreira, muito acolhedor.
Eu não pedi autorização dele para escrever sobre isso, mas busco apenas relatar aqui um sentimento.

Há uma fórmula?

Voltando à pergunta do começo, será que existe uma fórmula? O casal Preisner recebeu a notícia da morte do filho, porém, precisou esperar um longo tempo pela confirmação oficial. A mãe, hoje no julgamento, usou a seguinte expressão: “Saiu de casa um homem de um metro e noventa, com 125 kg, e voltou um caixão infantil no lugar.” A referência dela é ao estado em que ficou o corpo, com a ação impiedosa do fogo, sendo reduzido a uma pequena porção.
Durante os dois anos em que o processo criminal se arrastou, muitos momentos trouxeram de volta o que havia acontecido na noite de 27 de janeiro. Com o estado em que ficou o corpo, a perícia não conseguiu definir se ele estava vivo ou morto quando o carro foi incendiado.
Saber da morte é ruim, mas ficar imaginando até onde poderia ter ido o sofrimento do filho é uma tortura sem fim. Essa pergunta não veio da minha cabeça, mas ouvi do próprio pai, o Mano.
Depois de tudo o que se passou, todo o processo doloroso, enfim, hoje chegou o julgamento. Mano e a esposa estavam lá. Foram ouvidos na condição de informantes, dado o parentesco com a vítima, e acompanharam na primeira fila todos os argumentos da defesa da ré confessa, do assistente de acusação e do Ministério Público. Palavras duras, fotos, vídeos, momentos revividos. A defesa buscando na conduta da vítima uma motivação, com argumento que para a família, sem sombra de dúvidas, são doloridos e aumentam ainda mais a dor. 

Por que estou escrevendo sobre isso?

Explico: me tocou muito, e certamente não vou esquecer, um dos intervalos do julgamento. Mano, ao lado direito do auditório, olhava para a ré, que desceu do tablado para abraçar suas duas filhas. Fiquei observando e tentando decifrar o que passava na cabeça dele. O júri popular vai terminar com alguma condenação, mas não importa o número de anos, pois o filho não volta. Mas vale pensar: por mais que a ré passe longo período reclusa, o olhar do Mano Preisner naquele momento definiu tudo. Os filhos dela estavam lá.


Força, Mano! A você e seus familiares.

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Sobre o blog/coluna
Uma análise precisa e inteligente dos principais assuntos do momento.
Leonardo Zen é Jornalista Profissional Diplomado, pós-graduado em Rádio e TV, Especialista em Marketing Digital e Político, diretor da agência de publicidade Vivas Comunicação, e no último período da graduação em Direito. Ele tem 38 anos e atua na área de comunicação há 22 anos, antes mesmo de se formar em Jornalismo pela FAG, em 2007.
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